1 As figuras de linguagem que transmitem
comparação
Símile – É uma comparação que lembra outra
explicitamente. Pedro usou um símile quando disse que “…toda carne é como a
erva…” (1 Pe. 1:24). Jesus também fez uso do símile quando disse: “…eu vos
envio como cordeiros para o meio de lobos”. A dificuldade dos símiles é
descobrir as semelhanças entre os dois elementos. Em que aspecto a carne é como
a erva. De que forma os cristãos são como cordeiros?
Metáfora – É uma comparação em que um elemento representa
outro, sendo que os dois são essencialmente diferentes. Em uma metáfora a
comparação está implícita. Temos um exemplo disso em Isaías 40:6: “Toda a carne
é erva”. Note que é diferente da expressão em 1 Pedro, acima. Jesus comparou
seus seguidores ao sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5:13). Quando Jesus
afirmou: “Eu sou a porta” (Jo. 10:7-9), “Eu sou o bom pastor” (vv. 11-14) e “Eu
sou o pão da vida” (6:48), ele estava fazendo comparações. O leitor é levado a
pensar de que forma Jesus assemelha-se a tais elementos.
Hipocatástase – Não é uma figura de linguagem tão conhecida, mas
também faz uma comparação, na qual a semelhança é indicada diretamente. Davi,
no Salmos 22: 16, disse: “Cães me cercam…”. Ele não estava se referindo aos
caninos, mas sim aos seus inimigos. Os falsos mestres também são chamados de
cães em Filipenses 3:2, e lobos vorazes em Atos 20:29. Em João 1:29, João
Batista fez uso de uma hipocatástase quando exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus”.
2 As figuras de linguagem que transmitem
substituição
Metonímia – A metonímia consiste em trocar uma palavra por
outra. Por exemplo, quando afirmamos que o Congresso tomou uma decisão,
queremos dizer que os deputados e senadores tomaram a decisão. Pode ser também
que a causa seja usada em lugar do efeito. Os opositores de Jeremias disseram:
“…vinda, firamo-lo com a língua…” (Jr. 18:18). Como seria absurdo produzir
ferimentos com a língua, é claro que eles estavam referindo-se a palavras. Em
Atos 11:23, temos outro exemplo quando fala de Barnabé: “…e, vendo a graça de
Deus…”. O sentido aqui só pode ser o do efeito da graça, pois a graça, na
realidade não pode ser vista. Temos exemplos de substituição de elementos
relacionados ou semelhantes. quando Paulo disse: “Não podeis beber o cálice do
Senhor…” (1 Co. 10:21), ele não estava se referindo ao cálice propriamente dito,
mas sim ao conteúdo do cálice. Quando o Senhor disse para Oséias que “a terra
se prostituiu…”, a palavra terra diz respeito à população.
Sinédoque – É a substituição do todo pela parte, ou da parte
pelo todo. Em Lucas 2:1, a Bíblia nos diz que o imperador César Augusto emitiu
um decreto de que deveria ser feito o censo “do mundo todo”. Ele falou do todo,
mas estava se referindo ao Império Romano. É óbvio que Provérbios 1:16 – “…os
seus pés correm para o mal…” – não significa que somente os pés corriam para o
mal. Os pés são a parte que representa o todo. Áquila e Priscila arriscaram
suas próprias cabeças (Rm 16:4). Nesta sinédoque, “suas cabeças” representa
suas vidas, o todo.
Personificação – É a atribuição de características ou ações
humanas a objetos inanimados, a conceitos ou animais. A alegria é uma emoção
atribuída ao deserto, em Isaías 35:1. Isaías 55:12 fala de montes cantando e
árvores batendo palmas. A morte personifica-se em Romanos 6:9 e em 1 Corintios
15:55.
Antropomorfismo – é a atribuição de qualidades ou ações
humanas a Deus, como ocorre nas referências aos dedos de Deus (Sl. 8:3), a seus
ouvidos (31:2) e a seus olhos (2 Cr. 16:9).
Antropopatia – Esta figura de linguagem atribui emoções humanas
a Deus, como vemos em Zacarias 8:2: “…tenho grandes zelos de Sião”.
Zoomorfismo – Se o antropomorfismo atribui qualidades humanas
a Deus, o zoomorfismo atribui características animais a Deus (ou outros). Em
Salmos 91:4, faz-se referência a penas e asas. Jó descreveu o que ele
considerou como ira de Deus contra ele quando disse: “…contra mim rangeu os
dentes…” (Jó 16:9).
Apóstrofe – É uma referência direta a um obejto como se
fosse uma pessoa, ou uma pessoa ausente ou imaginária, como se estivesse
presente. O salmista empregou um apóstrofe em Salmos 114:5: “Que tens, ó mar,
que assim foges?…” Miquéias fala diretamente à terra, em Miquéias 1:2: “Ouvi,
todos os povos, prestai atenção, ó terra…”. Em Salmos 6:8, o salmista fala como
se seus inimigos estivessem presentes: “Apartai-vos de mim, todos os que praticais
a iniquidade…”.
Eufemismo – Consiste na substituição de uma expressão
desagradável por outra mais suave. Falamos da morte mediante eufemismos:
“passou desta para melhor”, “bateu as botas”. A Bíblia fala da morte dos
cristãos como um adormecimento (At. 7:60; 1 Ts. 4:13-15).
3 As figuras de linguagem que transmitem
omissão ou supressão
Elipse – é uma supressão de uma palavra facilmente
subentendida. É a omissão intencional de um termo facilmente identificável pelo
contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.Em 1 Co. 15:5, “os
doze”, representa “os doze apóstolos”.
Pergunta retórica – Uma pergunta retórica é aquela que não
exige resposta; seu objetivo é forçar o leitor a respondê-la mentalmente e
avaliar suas implicações. Quando Deus perguntou para Abraão: “Acaso para Deus
há algo muito difícil?…” (Gn. 18:14), ele não esperava ouvir uma resposta. A
intenção era que o patriarca refletisse mentalmente. Paulo fez uma pergunta
retórica em Romanos 8:31: “… se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Estas
perguntas são formas de se transmitir informações.
4 As figuras de linguagem que transmitem
exageros ou atenuações
Hipérbole – É uma afirmação exagerada em que se diz mais do
que o significado literal, com o objetivo de dar ênfase. Vejamos em
Deuteronômio 1:28 a resposta dos espias israelitas sobre a tomada de Canaã:
“”…as cidades são grandes e fortificadas até os céus…”
Litotes – É uma frase suavizada ou negativa para expressar
uma afirmação. É o oposto da hipérbole. Quando dizemos: “Ele não é um mal
goleiro”, na realidade queremos dizer que ele é um goleiro muito bom. Esta
atenuação dá ênfase à frase. Em Atos 21:39, Paulo disse: “… eu sou judeu,
natural de Tarso, cidade não insignificante”, quis dizer que Tarso era uma
cidade importante.
Ironia – É uma forma de ridicularizar indiretamente sob a
forma de elogio. Geralmente vem marcada pelo tom de voz da pessoa que fala,
para que os ouvintes percebam. Por isso, às vezes é difícil saber se algo
escrito é, ou não, uma ironia. O contexto nos ajuda a perceber isso. Por
exemplo Mical, filha do rei Saul, disse a Davi: “… que bela figura fez o rei de
Israel…” (2 Sm. 6:20). O versículo 22 nos mostra que o sentido pretendido era o
oposto, ou seja, o rei havia se humilhado agindo daquela maneira. Em 1 Reis
capítulo 18, no episódio de Elias contra os profetas de baal, vemos que Elias
ironizou a baal várias vezes.
Pleonasmo – Consiste na repetição de palavras ou no
acréscimo de palavras semelhantes. Atos 2:30 quer dizer literalmente “Deus lhe
havia jurado com juramento”. Como para nossa língua é uma repetição
desnecessária a NTLH traduziu sem esta repetição.
5 As figuras de linguagem que transmitem
incoerências
Oxímoro – Consiste na combinação de dois termos opostos ou
contraditórios. Quando falamos, por exemplo, “um silêncio eloqüente”,
empregamos um oxímoro. Em Fp. 3:19, Paulo diz que a glória dos inimigos de
Cristo está em sua infâmia; em Romanos 12:1 somos desafiados a sermos
“sacrifícios vivos”.
Paradoxo – É uma afirmação aparentemente absurda ou
contrária ao bom senso. Um paradoxo não é uma contradição; é simplesmente algo
que parece ser o oposto do que em geral se sabe. Jesus utilizou muitos
paradoxos em seus ensinos. Um deles nos diz que quem quiser salvar sua vida
deve perdê-la. Os humilhados serão exaltados. O maior no reino de Deus é o
menor. Se você quiser viver então morra.