CARTA AOS FILIPENSES
o que fazer em momentos de
crise
Introdução
Todos vivenciamos
momentos de crise. Eu já passei por momentos em que não sabia o que fazer tamanha
a dificuldade que me cercava. Acredito que todos aqui já tenham passado por
momentos semelhantes.
Nesta
mensagem hoje vamos pensar um pouco sobre o que fazer quando as crises nos sobrevêm.
Para aprofundar nossa reflexão vamos estudar quais foram as reações de Paulo
diante da prisão por causa do nome do Senhor Jesus e procurar entender como
podemos aprender a reagir de forma que Deus seja glorificado quando as adversidades
batem à nossa porta.
texto: Filipenses 1.19-26
Elucidação Textual
No
texto em estudo hoje Paulo está relatando à igreja que está certo de que, no
fim, a sua prisão resultaria em salvação. Se fosse a termos humanos a salvação
seria a sua libertação, mas se ele fosse condenado e morto a sua salvação seria
eterna. Por isso ele usa o termo grego “soteria” nesta frase, porque, fosse
como fosse Paulo seria salvo.
Ele
ainda manifesta a sua divisão quanto a que “salvação” lhe seria melhor, já que
se partisse e fosse estar com Cristo isso seria uma maravilha e se fosse
liberto e ficasse com os irmãos ficaria satisfeito em poder servi-los.
VERDADE TEOLÓGICA
Nossa
fidelidade ao Senhor Jesus é provada pelas reações às diversas situações que
vivemos, sejam boas ou ruins.
I – Em momentos
de crise devemos orar.
“Porque sei que disto me resultará salvação, npela
vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1.19).
Paulo valorizava a prática da oração pelos irmãos e dos irmãos por ele. Ele
tinha certeza da ação do Espírito Santo em seu favor função da oração dos
santos.
A igreja de Filipos cuidava do apóstolo não apenas nas suas necessidades
financeiras, mas também nas suas necessidades espirituais por meio da oração
intercessória. Eles estavam sempre levando o nome do apóstolo ao Senhor, orando
em favor dele.
A igreja do Senhor jamais é omissa na oração em favor dos seus obreiros
locais e daqueles que estão incumbidos da obra do Senhor em outros campos.
Não apenas Paulo orava pela igreja, mas também a igreja orava por Paulo e
isso trazia muita alegria ao coração do apóstolo. Ele sabia que não estava só,
havia irmãos à sua retaguarda cobrindo-o com orações.
É muito
reconfortante quando sabemos que há pessoas orando incessantemente por nós.
A
oração deve ocupar lugar prioritário na vida cristã. Martinho Lutero dizia que
a oração é para o espírito do cristão o que o oxigênio é para o corpo humano, a
sua ausência implica em morte.
Nós
temos dado à oração a prioridade que ela precisar ter em nossa vida? Temos
orado por nossos líderes e por aqueles que estão a serviço do Reino de Deus nos
campos?
O
Senhor Espírito Santo está intimamente ligado à prática da oração na vida dos
fieis (Rm 8.26,27; Zc 12.10) e é importante notar que as ações de poder do
Senhor em favor da igreja estão sempre relacionadas à oração (At 1.14; 4.23-31;
12.5,12), assim como a Palavra de Deus e a oração andam sempre juntas e uma
leva à outra (At 6.4).
Todos
os homens e mulheres que o Eterno usou ao longo da história e que deixaram
marcas tão profundas que impactam as nossas vidas até hoje foram pessoas de
oração.
Nossa
vida de oração nos fará homens e mulheres que deixarão marcas nas gerações futuras?
II – em momentos
de crise devemos ter coragem.
Paulo
era sabedor que o Senhor o poderia libertar de forma poderosa e milagrosa em
atendimento à oração dos santos. Ele já havia sido liberto por Deus por meio de
um milagre extraordinário (At 16.35), assim como também aconteceu com Pedro
quando fora preso junto com João (At 5.19) e em outra ocasião enquanto a igreja
orava em seu favor (At 12.1-7).
Porém,
em Filipenses 1.19 Paulo se refere à esperança da sua soltura não como sendo
realizada de forma miraculosa pelo Senhor Deus. Paulo nutria a expectativa de
ser liberto porque entendia que ainda era necessário estar servindo a Igreja
aqui na terra e, por isso, afirmou sua convicção de que o Senhor o manteria
vivo para o bem da Sua igreja (Fp 1.24,25).
É
interessante notar que Paulo usa a expressão grega “soteria” (salvação) para se
referir à esperança da sua soltura da prisão. Ao usar esse termo
propositalmente ele está ensinando aos irmãos que independente do que
acontecesse ele seria “salvo”. Se fosse solto seria uma salvação em nível
humano. Se fosse morto, seria a salvação eterna.
A fé de
Paulo é o antídoto divino para o desânimo que as circunstancias adversas tendem
a nos causar. Ser salvo pela soltura ou pela morte seria fruto da obra do
Espírito Santo em sua vida, pois lhe proporcionaria salvação de qualquer forma.
É esta maturidade espiritual que falta em muitos cristãos contemporâneos; saber
que independente do que nos aconteça na carne, o Senhor está sempre no controle
e no final, Ele nos salvará.
Esta
declaração de Paulo significava dizer para a igreja de Filipos que o Espírito
Santo o estava fortalecendo de tal maneira que ele não se deixava abater porque
sabia que era verdadeiramente “liberto”. E esta ousadia e coragem era também
resposta às orações dos irmãos (Fp 1.19).
Além da
oração dos irmãos e do socorro do Espírito Santo, Paulo orava e pedia ao Senhor
que o Senhor lhe desse graça para jamais retroceder de sua missão. Veja como a
Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduz Filipenses 1.20: “O meu grande desejo e a minha esperança são de nunca falhar no meu dever,
para que, sempre e agora ainda mais, eu tenha muita coragem. E assim, em tudo o
que eu disser e fizer, tanto na vida como na morte, eu poderei levar outros a
reconhecerem a grandeza de Cristo”.[1]
Paulo
estava convicto de que o Senhor lhe proveria tudo o de que necessitasse para
suportar o que estava por vir. A palavra “socorro” (Fp 1.19), utilizada por
Paulo, se refere a um patrocinador que cobre todas as despesas de um evento.
Sendo assim, o apóstolo dos gentios está expressando sua certeza de que o Senhor
lhe forneceria toda graça, força e coragem necessárias para passar pelo que
fosse necessário para a glória de Deus Pai.
O medo
de Paulo em falhar na sua missão, perdendo a coragem diante dos desafios
inerentes a ela e deixando de honrar o Senhor Jesus (Fp 1.20), também é digno
de nota. Tudo indica que Paulo, sabedor de que poderia comparecer diante do
imperador Nero, o cruel assassino de cristãos, desejava ser revestido de Deus
para não fraquejar na fé devido à sua humanidade. Paulo entendia que se fosse
dominado pela sua natureza humana tenderia a omitir ou subtrair questões
essenciais de sua fé tentando salvar-se, vencido pelo medo natural da morte,
ele estaria deixando de glorificar a Cristo.
Se ele
tivesse que morrer, que fosse por confirmar a sua fé e não por negá-la. E se
tivesse que viver, que fosse para a glória de Deus e não por negar essa glória.
O
desejo de Paulo era que, na hora mais crucial de sua vida, diante da mais
desafiadora confrontação da sua fé ele não negasse ao Senhor diante dos homens,
pois não desejava ser negado diante do Pai (Mt 10.33). Por essa razão ele
escreveu a Timóteo já na sua segunda prisão (aquela na qual seria morto) que
Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação(2Tm
1.7).
Esta
coragem inerente aos verdadeiros homens e mulheres de Deus é proveniente única
e exclusivamente da pessoa do Espírito Santo. Ninguém enfrentará a morte com
resignação e serenidade, sem tentar a todo custo salvar-se sem uma ação do
Senhor em seu espírito, e isto só possível mediante uma vida de íntima comunhão
com o Trino Deus Todo Poderoso.
III – em momentos
de crise devemos glorificar ao senhor.
Paulo
ansiava por glorificar a Cristo não só por meio de suas palavras, mas também
por meio do seu corpo (Fp 1.20).
O
testemunho de um servo fiel possui um poder descomunal. Francisco de Assis, demonstrando bem a
essência do testemunho de vida, dizia: “Evangelize
sempre, quando for necessário use palavras”. É possível ganhar para Cristo amigos que
sempre foram indiferentes às nossas palavras quando eles virem como reagimos
diante das adversidades da vida. Como escreveu meu amigo, pastor Carlos
Coutinho Rômolo: “Seu obstáculo pode
tornar-se o seu púlpito”.
O
cristão que continua fiel no seu serviço a Jesus quando tudo está contra ele,
exerce grande influencia sobre os que o cercam.
A
essência do evangelho é que Cristo seja glorificado em nós de tal maneira que
Ele se torne real para as pessoas. Não se trata da ideia equivocada, pregada
por muitos hoje, de que Cristo só é glorificado quando eu faço sucesso, pois “não
há glória no fracasso de ninguém”, dizem.
A
resposta a essa falsa premissa é que Cristo é glorificado em nossas fraquezas
pela forma como nos portamos diante delas. A fé é confirmada pela nossa
fidelidade em qualquer situação, seja de sucesso, de fracasso, de dor, de
alegria, etc., pois todas essas coisas vêm dele e são para atingir os
propósitos dele. É possível envergonhar ou glorificar ao Senhor tanto no
sucesso quanto no fracasso, na bonança quando na dor, tudo depende das nossas
atitudes nestas circunstâncias.
Por
essa razão Paulo declara com firmeza: “Porque
para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho”.[2] Ele estava convicto que a maior tragédia da vida é a falta de Cristo.
Quando Jesus está presente em nós, tanto a vida quando a morte se revestem de
um novo significado nele, pois, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor
(Rm 14.8).
Se Paulo permanecesse vivo o lucro seria da igreja, se ele morresse o
lucro seria dele, pois estaria com o Senhor. Morrer é lucro, pois não se trata
se estar num sono insconsciente, mas de estar com o Senhor, numa comunhão
consciente. O momento de ausência aqui é o momento de presença lá. Morrer para
o cristão, portanto, é lucro.
Conclusão:
Precisamos
cultivar uma vida de oração contínua (1Ts 5.17) para aprofundar nossa comunhão
com o Senhor e nos revestirmos dele a fim de que tenhamos coragem sempre no
serviço a Ele diante dos desafios que nos forem impostos e assim possamos
honrá-lo e glorifica-lo com nossas atitudes na mais diversas situações que
vivermos, seja na bonança ou na escassez, na alegria ou na tristeza, no sucesso
ou no fracasso, na cura ou na enfermidade, etc.
Enfim,
ao aplicar os ensinamentos da Escritura à nossa vida diária vamos desfrutar de
uma vida mais íntima com Deus a cada dia e estar prontos para viver ou morrer
para Cristo, pois somos dele aqui ou lá.
Que a
graça do Senhor seja com todos nós.