domingo, 8 de fevereiro de 2009

JESUS CONHECE A SUA IGREJA

Introdução
Na lição de hoje vamos avaliar o conteúdo das cartas enviadas às sete igrejas da Ásia Menor e de que maneira esse conteúdo se aplica à igreja hoje, pois “quando Jesus envia carta às sete igrejas, significa que ele envia sua mensagem para toda a igreja, em todos os lugares, em todos os tempos” (Lopes, 2008). Portanto, nosso propósito hoje é descobrir “o que Cristo pensa da Igreja” (Stott, 1999) e tem a dizer a ela.
Como veremos, a mensagem enviada a essa igrejas é aplicável a qualquer igreja em qualquer época e lugar, e, possivelmente nos identificaremos com algumas delas. Que o Senhor nos abençoe.

I- ÉFESO E ESMIRNA
Éfeso era a maior cidade da Ásia e o centro da administração romana daquela província. A igreja fundada por Paulo veio a ser a principal base para a evangelização da Ásia Menor e tornou-se, juntamente com Antioquia, uma das principais igrejas daquela região, e em Éfeso o apóstolo João terminou os seus dias.
Ao falar das sete estrelas e dos sete candeeiros o Senhor está dizendo que a vida espiritual daquelas igrejas dependia dele e que a sua presença é real em todas elas. O v.2 começa com a expressão “Eu sei”, presente em cada uma das sete cartas, quer animando (Ap 2.9), quer repreendendo (Ap 3.1-15). O Senhor conhece as suas obras, o trabalho e paciência; revelados na resistência aos falsos mestres e aos falsos apóstolos (vv. 2,3). O problema de Éfeso é que em decorrência dessa luta ferrenha contra os falsos mestres e falsos apóstolos eles se tornaram frios quanto ao amor, tanto fraternal quanto ao Senhor, uma vez que um não existe sem o outro (cf. Mc 12.30-31 com 1Jo 4.20). E se essa frieza não fosse tratada traria aos efésios o juízo do Senhor (v.5).
Os nicolaítas, embora existam outras teorias, possivelmente eram os adeptos de Nicolau de Antioquia, um dos sete (At 6.5) e, com base nos vv. 14,15 podemos entender que o erro deles era ensinar a comer coisas sacrificadas aos ídolos e a adulterar assim como os seguidores de Balaão uma vez que os nomes têm significados cognatos: Balaão -"Ele tem consumido o povo"; Nicolau-"Ele vence o povo". Porém aquele que der ouvidos ao Espírito Santo será vitorioso e comerá da árvore da vida (7); isto é, participará da plenitude da vida eterna.
Esmirna era uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor e lá havia uma enorme e próspera colônia judaica, muito desfavorável à igreja. O título dado a Cristo (8) visava relembrar à igreja que Cristo é o Senhor da história e conquistador da morte.
A blasfêmia dos judeus (9) era a contra Jesus. Os judeus se aliaram aos pagãos em reivindicarem a morte de Policarpo, Bispo de Esmirna, na base de sua oposição à religião estatal. Desse modo, em vez de constituírem uma assembléia de Deus, eles haviam-se tornado a sinagoga de Satanás.
A tribulação da igreja terá a duração de dez dias (10), isto é; um período abreviado, indicando que a prova do cristão verdadeiro não é permanente, mas transitória, tendo dia e hora para acabar. A coroa da vida (10) é uma alusão à coroa dada ao vencedor nos jogos, e significa uma coroa que consiste de vida em contraste com a segunda morte dos que não vencerem (11).

II- PÉRGAMO E TIATIRA
Pérgamo era tida como a cidade mais idólatra da Ásia e tornou-se o reconhecido centro do culto na Ásia por ter sido a primeira cidade da região a estabelecer o culto ao imperador. Por isso dizer que a igreja se encontrava onde está o trono de Satanás (13).
O título no v. 12 afirma que o Senhor é o que tem a espada aguda de dois fios (Ap 1.16; 2.16). O ensino de Balaão (Nm 25.1-2; 31.16) não dava valor ao aspecto humano afirmando que não importava o que se fazia da vida na matéria desde que o espírito estivesse bem, e assim pervertiam o ensino de Paulo (Rm 3.8; 6.1), assim como os nicolaítas (15) que ensinavam como Balaão ensinava a Israel.
Por essa conivência com os que assim procediam o Senhor os repreende (16) e promete ao vencedor comer do maná espiritual em lugar da mesa dos ídolos e uma pedra branca (17), que embora de difícil interpretação devido às várias utilidades dadas a tais pedras, parece apontar ao costume jurídico de dar uma pedra branca ao réu por absolvição ou uma preta por condenação; ou ainda à pedra branca dada ao vencedor de uma competição e que lhe concedia entrada a todas as festas públicas, indicando espiritualmente acesso à festa das bodas do Cordeiro (Ap 19.1-10).
Tiatira era a menor das sete cidades e não possuía nenhum templo devotado ao culto dos imperadores tendo relativa paz. O problema dessa igreja era interno e por isso o título atribuído ao Senhor, Filho de Deus (domínio) que tem os olhos como chama de fogo (onisciência), e os pés reluzentes (18). As obras citadas são todas de qualidade progressiva: amor, serviço, fé e paciência (19). Porém, havia uma tolerância a certa profetisa, chamada simbolicamente de Jezabel, que ensinava o povo a participar da mesa dos ídolos em festivais pagãos que terminavam sempre em licenciosidade, prostituindo-se espiritualmente (20). Essa mulher já havia sido advertida, porém sem resultado. Então o Senhor a lançará em uma "cama" indicando uma doença (Ex 21.18) e contrastando o leito de enfermidade com o leito de prostituição. Os que com ela adulteram são distintos dos seus filhos, os primeiros foram influenciados por Jezabel, e comprometeram a sua lealdade cristã e deviam ser castigados, enquanto os últimos (filhos) abraçaram inteiramente a sua doutrina e deveriam ser mortos. Tais juízos fariam as igrejas reconhecerem que Cristo sonda as emoções (rins), e o intelecto (coração). As profundezas de Satanás (24) são uma alusão cômica ao pensamento gnóstico de serem os únicos a conhecer as profundezas de Deus. Tal sabedoria não é divina, mas satânica.
O vencedor é aquele que guardar até ao fim as obras do Senhor e terá como recompensa o mandato de autoridade de Cristo sobre as nações (26) e participação da sua vitória sobre os povos (27). A estrela da manhã (28) parece ser o próprio Cristo (Ap 22.16), pois o maior dos privilégios não é o de reinar por Cristo, mas o de gozar plena comunhão com Ele.

III- SARDES, FILADÉLFIA E LAODICÉIA
Sardes era notável pela sua indústria de tintura e lã, e pela enorme libertinagem. O título dado a Jesus o apresenta como o detentor dos sete espíritos, aludindo ao seu perfeito conhecimento das igrejas (1). Embora alguns poucos cristãos permaneçam fiéis ao seu Senhor (4), a igreja é chamada de morta e todos são tidos como responsáveis (2) e serão punidos repentinamente pelo Senhor se não se arrependerem e voltarem para a Palavra de Deus (3). Por isso o Senhor promete ao vencedor que será vestido de uma veste branca, fazendo alusão àqueles que mantêm o seu caráter puro e que não se contaminam com o paganismo que serão vestidos de glória com Cristo e que seu nome jamais será apagado do livro da vida pois conforme o conceito da época o nome era sinônimo de "pessoa" e que o Senhor o confessará diante do Pai e dos anjos como sinal de honra (5).
Filadélfia era pequena e, conseqüentemente a igreja dali também. Entretanto, para essa igreja Cristo se identifica como o santo e verdadeiro e o que tem a chave de Davi (Is 22.22) que é uma figura de Cristo como o cabeça da família de Deus, a igreja (Stott, 1999). E com a chave de Davi o Senhor abre para essa igreja uma porta aberta que ninguém pode fechar, e na Escritura uma porta aberta é sinônima de oportunidade e acesso irrestrito, e nesse caso parece certo que a porta era a oportunidade para um trabalho eficaz (8).
Assim como em Esmirna, os judeus eram os grandes opositores da igreja (9), mas um dia eles reconhecerão que estes cristãos desprezados são na realidade os herdeiros do reino de Deus. A fidelidade de Filadélfia resultará na proteção do Senhor na hora da tentação que há de vir para os que habitam na terra (10), um termo técnico para os descrentes do mundo (cf. Ap 11.10).
O vencedor será na nova era uma coluna no templo (12) é uma expressão para descrever a eterna união com Deus uma vez Apocalipse 21.22 afirma que não haverá templo na Jerusalém celestial senão Deus e o Cordeiro. Também o fato de Cristo escrever o nome de Deus e da cidade de Deus nos fala de uma identidade com o Senhor e com o Seu reino eterno.
Laodicéia foi erguida estrategicamente como ponto de ligação entre toda a Ásia Menor e por isso tornou-se centro comercial e administrativo. A cidade possuía um centro bancário de enormes reservas financeiras; uma forte indústria de tecidos e tapetes de lã e uma faculdade de medicina. A igreja não era imoral, nem idólatra, nem apóstata doutrinariamente e desconhecia a perseguição. Porém, havia ali um orgulho e uma auto-satisfação tão grande que a comunhão com Cristo praticamente inexistia (17). Por isso Jesus se identifica como o Amém; isto é, a encarnação da verdade e fidelidade de Deus (14) para uma igreja que nem era declaradamente ímpia (fria), nem declaradamente fervorosa (quente), mas de um fervor hipócrita e orgulhoso (morna) e que por isso seria desprezada (vomitada) pelo Senhor (15,16). Essa contradição entre a fé cristã e orgulho ficam claras na expressão "porque dizes", mostrando a clara diferença entre o que eles pensavam de si mesmos e o que Cristo pensava deles (17)! Resta aos laodicenses "comprar" (18 cf. Is 55.1) de Cristo o ouro fino de um espírito regenerado, de pureza de coração, que possa levá-la à glória da ressurreição (Ap 7.13,14) e da graça pela qual possa apropriar as realidades espirituais (1Co 3, 2Co 4) (Biblos - Vida Nova). Entretanto, essa violenta reprimenda é, na verdade, fruto do amor do Senhor pela igreja visando levá-la ao arrependimento (19,20), e a promessa feita a eles transcende às que foram feitas às outras igrejas, pois Cristo garante aos vencedores que compartilharão do trono dos séculos vindouros dado pelo Pai.

Conclusão
Como vimos na lição de hoje as igrejas as quais o apóstolo João escreveu enfrentavam determinados problemas que ainda hoje assolam o povo de Deus: a frieza doutrinária em prejuízo do amor cristão (Éfeso), a perseguição por parte de muitos que se dizem povo Deus (Esmirna), a conivência com a imoralidade no seio da igreja (Pérgamo), a tolerância a falsos profetas (pregadores) que têm ensinado conceitos pagãos ao povo de Deus (Tiatira), a assimilação de práticas pagãs que ferem o verdadeiro caráter cristão (Sardes), a vida difícil e repleta de restrições e dificuldades mesmo vivendo em fidelidade (Filadélfia) e o orgulho e prepotência em se pensar de si além do que convém achando-se superior aos outros (Laodicéia). Todavia o Senhor tem a palavra certa para cada uma dessas dificuldades e se nós o ouvirmos certamente seremos vencedores e gozaremos das Suas promessas, mas a decisão é nossa responsabilidade, assim como as suas conseqüências.

Por Ioséias C. Teixeira em 04/02/09
Lição de número 2 da revista de EBD que será lançada para o trimestre de abril a junho.